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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Dica Literária Da Semana

Crônica de Uma Morte Anunciada, do colombiano Gabriel García Márquez. Uma novela escrita em 81, cujo texto é narrado extraordinariamente.

Roupas Adequadas À Ocasião

É normal que as pessoas se vistam conforme o compromisso ou o ambiente em que estarão presentes. Nenhum sujeito vai à praia de smoking. Assim como não se comparece de camiseta, bermuda e chinelos num baile de gala. Simples questão de bom senso. Claro que algumas pessoas são mais excêntricas que outras, como, por exemplo, meus amigos: Um deles reserva uma determinada cueca para ir aos estádios de futebol. Veste-a somente nessas ocasiões. Ao retornar para casa, retira e guarda a peça numa gaveta. Detalhe: Não lava nunca, pra não dar azar. Outro amigo nunca usa meias da mesma cor. Para que coisas boas lhe aconteçam no dia a dia, depende fundamentalmente disso. E, para não dar muito na vista, escolhe cores mais próximas, ambas claras ou escuras. A empregada jura que ele é maluco. Bobagem. Já o Célio, que é exímio e contumaz jogador de pôquer, escolhe sempre camisas exageradamente estampadas e brilhosas para competir. Alega estratégia. Faz sentido, pois o colorido espalhafatoso desconcentra seus oponentes.
Já meu irmão gêmeo, um pouco mais acomodado, não é dado a essas coisas. Faz o mínimo, como ter o cuidado de calçar sempre primeiro o pé esquerdo do sapato (que é o CORRETO!!!); verificar diariamente se o ponteiro dos segundos do relógio de pulso está alinhado com o ponteiro respectivo do relógio da torre da Matriz; verificar se nenhuma das suas camisas ou paletós perdeu algum botão e se embaixo da cama dele não tem ninguém escondido.
Outro dia, estava se preparando para assistir na TV ao London Jazz Festival 2010. Vestia uma camisa preta, que sempre usa quando assiste a Jazz Sessions, quando tocou o telefone:
- Oi, gracinha, é a Olívia, tudo bom, menino?
- Oi, gatinha, tudo bem, e com você?
- Tudo. Querido, preciso da sua ajuda. Sabe, estou com um cara ma-ra-vi-lho-so! Lindo, inteligente, sensível, divertido, maduro, cheiroso, romântico, sincero. Ele é tudo de bom!
- Putz, que legal! Há quanto tempo estão juntos?
- Conheci o Duda ontem à noite.
- Ontem à noite? Concluiu tudo isso sobre ele numa noite? Duda? Não lembro de conhecer nenhum Duda? Deve ser...Eduardo alguma coisa, né?
- Não sei, pode ser. Ái, ele é tão gato, sabe? Hoje vai ser nossa primeira noite de amor.
- Já?
- Demorou, boneco. Por mim, tinha rolado ontem mesmo, mas eu segurei as pontas porque eu preciso de ajuda. Então lembrei de você.
- De que tipo de ajuda você está falando?
- Quero estar linda e poderosa esta noite. Quero deixar o Duda maluquinho. Então, queria que você me ajudasse a escolher um conjuntinho de lingerie, porque eu quero a-rra-sar.
- Eu? Por que você não pede a uma amiga? Aliás, se ele estiver mesmo a fim de você, nem vai reparar nisso...
- Imagina...homem repara, sim. Ái, fofo, pelos nossos velhos tempos, vai...
- Peça a uma amiga, Olívia, você tem tantas.
- Preciso de opinião masculina, entende?
- Tá bom, tá bom, vou assistir a um programa na TV e depois...
- Não! Tem de ser agora, lindo. Vou me encontrar com ele daqui a quatro horas. Deixe o programa gravando, vai...
Pô, ninguém me dá sossego... - Trocou a camisa preta e foi pra casa dela. Acomodou-se no sofá e pediu pra ela trazer a gaveta de lingeries.
- Gaveta? Não pode me ajudar escolhendo nas mãos. Fique aí, que vou colocar algumas peças e daí você escolhe, ok?
- (?)
Foi quando começou o desfile:
Primeiro apareceu com um conjuntinho lilás de seda e renda.
- Você andou malhando, é?
Depois um jogo de rosa e azul com transparência e babadinhos. Úi!
- Vá dando nota!
Certa demora e ela surge de meia-calça, cinta-liga, fio-dental e corpete pretos.
- Afff...
Apareceu com outro, um shortinho, com uma cortininha presa atrás e que balançava enquanto ela andava. Nem reparou na parte de cima.
Surpreendeu-o o modelo seguinte: do tipo põe-e-gruda. Não tinha alça, laço, presilha, nada. Como é que não cai?
- Nunca viu nas rainhas de bateria do carnaval?
Do próximo não gostou. Um vermelho aceso transparente, mas parecia de plástico...
- É gelatina comestível sabor morango, bobinho.
Achou o de oncinha meio vulgar. Esse rabo aí é removível?
Aí veio com um modelito prateado. Prateado, naquela pele morena bronzeada. A minúscula tanga tipo “asa-delta” e o sutiã em formato de tulipa. Tinha fios dourados bordados imitando uma chuva de fogos de artifício. É este! É este! Olívia, - disse meu mano - preciso urgentemente de um copo d´água bem gelada.
Ela trouxe um espumante.
Bom, certamente o Duda teria adorado vê-la naquela noite.

domingo, 17 de outubro de 2010

Bichos Adoráveis



Sempre tive problemas com animais. Eles sempre me sacanearam.

Lembro-me de que, bem pequeno, fui com meus pais a uma festa de agronegócios. Passeávamos pelas atrações quando notei uma roda de adultos rindo e aplaudindo alguma coisa no interior do círculo de gente. Larguei a mão deles e corri para ver do que se tratava. Ao colocar a cabeça entre as cinturas dos adultos, percebi que um homem, no centro, fazia números com um chipanzé adestrado. Não deu tempo pra mais nada. O macaco deu um salto, pegou-me pelos cabelos e meteu-me um tabefe que me jogou longe. O evento, pra mim, acabou ali.

A molecada toda curtia caçar passarinhos com estilingue. Eu tinha o meu. Nunca peguei um bichinho, mas perdi as contas de quantas vezes uma das tiras de borracha esticada desprendeu-se do Y, vindo bater violentamente no meu rosto.

No meu sétimo aniversário, ganhei um pastor alemão. Que sonho! Que pesadelo! Quando filhote, mastigou todos os meus brinquedos, inclusive o par de tênis que fiquei meses implorando pra ganhar. Tornou-se um macho forte e bravo...comigo. Eu era a única pessoa em que ele adorava avançar.

Um dia, um amigo do meu irmão mais velho apareceu com uma espingardinha de ar comprimido. Olhei praquilo como se estivesse vendo Jesus descer à terra. Que maravilha! Pedi emprestada por umas horas, prometendo que não voltaria de mãos abanando. Um tempo depois, com a caixa de chumbinhos quase acabando e sem conseguir nada - minha pontaria não acertaria um boi a cinco metros -, resolvi apelar: Peguei uma grana, fui à casa de uma senhora que vendia pombos e comprei um (até hoje não sei pra que alguém compraria pombos, além de mim). Pus a ave deitada no chão, prendi-a com um pé, encostei o cano da espingardinha bem na cabecinha, pra não ter perigo de errar, e atirei. Soltei o pé e a danada saiu voando até o telhado mais próximo. Pousou e ficou me olhando. Tenho certeza de que ria de mim. Catso, tinha esquecido de colocar munição! Não desisti. Armei a espingarda, mirei e disparei. O chumbinho acertou a travessa de madeira do telhado e voltou diretamente para a minha testa. Na mesma hora, cresceu-me um calombo enorme que, se lembro bem, levou um mês pra sumir. Ainda estava meio grogue, quando olhei pro quintal do vizinho e vi um galo “fazendo mal” a uma galinha. Que sem-vergonha! Armei e mirei na asa dele. Se acertar na asa, não mata, já tinham me falado. As penas protegem. Mirei, mirei e pimba! O chumbinho transpassou o pescoço do infeliz. Menos de quinze minutos depois a vizinha estava aos berros com a minha mãe. Trinta dias sem sorvete pra mim.

Eu vivia numa cidadezinha do interior e tinha um coleguinha de escola que morava numa fazenda. Certa vez, combinamos de brincar na minha casa. Ele veio montado a cavalo. Achei lindo o bichão e pedi para dar uma volta. Recebi as instruções: para virar pra esquerda, puxe a rédea da esquerda; pro lado oposto, rédea pra direita; pra frear, puxe as duas; pra andar, bata levemente com os calcanhares na barriga dele. Moleza! Montei no bicho e comandei que andasse. Só que o idiota do cavalo resolveu voltar pra fazenda. Não houve comando que o fizesse mudar de idéia. Me fez de mero passageiro. Só parou quando chegou no estábulo. Tive de voltar caminhando pelos vinte quilômetros que separavam a fazenda da minha casa, debaixo de uma puta chuva.

Já adulto, minha esposa apareceu em casa com um filhote de cão da raça Akita. “Rivaliza com pit-bulls na escala de agressividade” – disse-me. Nunca vi cachorro mais manso. Certa vez, um parente veio nos visitar, com um poodle nos braços. O cãozinho partiu pra cima da minha “fera”, que, pra evitar o confronto, atirou-se na piscina. Quase morri de vergonha.

Tempos depois, morando num prédio, comecei a ser acordado todo santo domingo, às seis da manhã, com o latido fino, escarnecido e interminável, proveniente do apartamento de baixo. Liguei pro PSIU. Se não era música alta, não era com eles. Liguei pro Canil Municipal, só atendiam em caso de cães soltos na rua. Recorri à prefeitura. Só atuariam se a perturbação fosse noturna. Pô, seis da matina de domingo ainda não é “de dia”! Depois do elogioso “seu burro” dito pela minha mulher, resolvi seguir a sugestão dela: liguei na portaria do prédio e pedi pra falar com o síndico. O síndico, pra minha imensa sorte, era justamente o morador do apartamento de baixo.

Mudei de prédio. Meu problema apenas mudou de espécie. Na casa vizinha, há uma árvore em que vive um pássaro cujo pio eu jamais havia ouvido. Se bem-te-vi leva esse nome pelo som que emite, minha ave vizinha deveria ser chamada de griiii-tiu-tiu-tiu-tiu-tiu-tiu-tiu-biro-biro. E o pior, além dos cem decibéis do ruído, é que o bicho começa ali pelas duas da manhã e para por volta das oito. Acho que pensa: “Agora que precisa levantar pro trabalho, humano estúpido, é minha hora de dormir”.

sábado, 16 de outubro de 2010

Camelô Globalizado

Ao entregar meu cartão de crédito no caixa de uma loja de artigos masculinos, em Milão, ouvi da funcionária:
- Ah, ma è brasiliano... – sorriu largo.
- Sì. Ciao, bela.
De sacolas em punho, ia saindo pela porta, quando fui abordado por um senhor:
- Piacere. Mio nome è Bartolo. Io sono italiano ma vivo in Sao Paulo – pôs um dedo na orelha e apontou para a moça do caixa, dando a entender que tinha ouvido a constatação dela sobre minha origem. É notável como os italianos constrõem suas frases parte com palavras, parte com gestos manuais.
- André – estendi-lhe a mão – Piacere.
Convidou-me para um café. Então soube que era uma espécie de camelô internacional. Comprava artigos masculinos de grife em Milão e os revendia porta a porta no Brasil. Pediu para ver o que eu tinha comprado e riu escancaradamente, jurando que se eu comprasse dele, sem precisar sair de casa, teria economizado uma boa grana. Achei-o um tanto malandro e pouco factível sua conversa. Abreviei o encontro, alegando hora marcada para um passeio turístico. De qualquer forma, por educação, dei-lhe um cartão de visitas.

Passado um mês, ele me ligou. Perguntou se poderia apresentar-me umas peças. Entrou em casa arrastando um carrinho desses usados em aeroportos, com meia-dúzia de sacolas. Foi tirando: ternos, camisas, calças, casacos, sapatos, cintos, gravatas, lenços, meias, etc, etc.
Qual era a mágica de oferecer produtos de grifes italianas a preços tão baixos? Mercadoria roubada? Impostos sonegados? Nada disso! Contou-me que comprava duas unidades de cada, levava tudo para uma fábrica nas Filipinas e mandava reproduzir à perfeição. O custo de produção na Ásia permitia preços tão atraentes.
- E por que duas peças de cada?
Num português macarrônico, explicou:
- Una per essere desmontada, per essere copiada parte per parte – pezzo per pezzo, capito? E una per essere comparada dopo finita la imitazione, capito? Nem Salvatore Ferragamo può distinguere l´originale dal falso.
- Mas aqui está escrito “Fatto a mano – Prodotto Italiano”. Cadê o “Made in Filipines”?
- Ah, banbino... Noi siamo italiani. Noi non accettiamo questa globalizzazione.
O curioso é que ele contou que vendia suas peças em consignação. Isso é comum quando se negocia com lojistas. Mas com consumidores finais? O cliente fica com uma determinada roupa e pode experimentá-la por uma semana. Gostou, paga, se não, devolve, desde que sem manchas ou descosturas. Neste caso, ele lava, passa e volta a oferecê-la como nova. Mas, avisou: não esconde esta estratégia. O próximo cliente aceita, se quiser, claro, a um preço um pouquinho menor a cada devolução. Se todos devolverem uma peça, é porque ia ficar encalhada mesmo, argumentou.
- Só não dá para fazer isto com sapatos, né? – imaginei – Afinal os solados lixam e o couro fica marcado...
Muito pelo contrário - contou - sapatos eram sua estratégia mais rentável. Explicou que a consignação de sapatos funcionava assim: O cliente podia usá-los por uma semana. Se não gostasse, podia devolvê-los, mas ao custo de 10% do valor de venda inicial. Assim, ao próximo cliente seria ofertado a 90%, ao seguinte a 80% e assim sucessivamente. Ao cabo de 10 semanas, o par já se havia pago. Como os sapatos italianos (!!!) são muito resistentes, nesse tempo ainda estariam em ótimas condições. Havia casos em que um determinado modelo ia e voltava por até 20 semanas. Sobrepreço de 100%. E mais, a maioria dos clientes, quando visitada, já ia avisando: - Minha grana está curta. Me veja aí um par que já tenha voltado umas 6, 7 vezes. Era o negócio com mais saída, neste nosso Brasilzão de pobreza erradicada.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Discordâncias Antropológicas

“Um humano, ser humano, pessoa, gente ou homem é um animal membro da espécie de primata bípede Homo Sapiens, pertencente ao gênero Homo, família Hominidae.
O macho adulto desta espécie é denominado Homem. A fêmea adulta, por sua vez, é denominada Mulher”

Sei, não. Aí começam minhas discordâncias:
Pra mim, homem e mulher não são da mesma espécie, mas de espécies próximas, primas, parentes, assim como leões e tigres, e que vivem cada uma em seu habitat exclusivo. Ah, mas existem leões machos e leões fêmeas, e o mesmo vale para os tigres. Rebato: Existem homens masculinos e homens femininos, mulheres idem. E criticar tira votos na eleição.
Pode-se começar analisando os hábitos de ambos. Homens alimentam-se de calabresa acebolada e de cerveja gelada. Mulheres, de brigadeiro e de Activia sabor ameixa. O habitat natural delas é o salão do cabeleireiro. O deles é o botequim mais próximo. Mulheres fazem sexo por amor. Homens fazem amor por sexo. Eles são capazes de pronunciar até 40 palavras por minuto, apenas dez por cento da capacidade delas. Homens ficam felizes quando o time deles ganha o campeonato. Mulheres manifestam tal sentimento quando se sentem magras. Mais que felizes, homens ficam exulberantes quando se sentem garanhões. Para mulheres, a exuberância surge quando pensam estar supermagras.
Eles adoram retocar o carro. Elas, os cabelos. A mente deles já foi mapeada e devidamente explicada. A delas ninguém sabe, exatamente, onde se aloja. Mulheres pensam, homens agem. Elas crescem e amadurecem. Eles crescem. Elas deixam de ser férteis ali pelos 45. Eles, só mortos. Eles usam calçados. Elas os colecionam. Eles mentem por natureza. Elas fingem que acreditam. Elas preferem homens sensíveis. Eles, apenas que sejam bundudas.

Outro aspecto que os torna muito distintos é a comunicação. Mostro um caso típico:
- Benhê, você ainda me ama?
- Hum, hum.
- Ainda sou a sua gatinha?
- Hum, hum.
- Sou única pra você?
- Hum, hum.
- Vai ficar comigo até eu ficar velhinha?
- Hum, hum.
- Este vestidinho está bom?
- Hum, hum.
- E a cor do meu esmalte? Combina comigo?
- Hum, hum.
- Benhê! Você só sabe dizer “hum, hum”?
- Hum, hum.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Filho Bem Intencionado

Minha mãe sempre foi minha confidente. Sempre relatei a ela tudo o que acontecia comigo. Nunca senti vergonha de falar sobre minhas intimidades. Conversávamos abertamente sobre minhas descobertas sexuais. Mulheres são mais sensíveis, mais profundas, mais verdadeiras, mais francas. Não tenho lembrança de ter travado um único diálogo destes com meu pai, que ela, com 51 anos, merecidamente o deixou.
Mas, vamos parar por aqui, que eu tenho de zelar pela minha fama de escritor divertido.

Aos 18 anos, descobri um novo e maravilhoso mundo. O mundo dos motéis. Cheguei em casa radiante:
- Mãe, você já foi a um motel? – Não me conformei com a negativa dela – Tem de conhecer! Cama redonda, TV com canal de sacanagem, hidromassagem, teto-solar, espelho pra todo lado. É o máximo!
- Hum...
- Quer conhecer? Eu levo a senhora.
- Tá doido, moleque? Mãe e filho entrando num motel? Que vão pensar?
- Mas, mãe, o lugar é lindo! Quando eu me casar, vou querer ter uma suíte igualzinha!
Boba, ficou sem conhecer.

Noutra vez, cheguei encantado em casa:
- Mãe, pela primeira vez, saí com uma garota de programa.
- É, filho? 
- Uma verdadeira diaba, mãe.
- Imagino, filho.
- Quase pedi ela em namoro.
- Eh, tonto!
- Por que, mãe? Ela disse que foi a melhor transa da vida dela.
- Elas dizem isso pra todos, bestão.
- Jura? 

Um dia, foi a vez dela confidenciar-se comigo:
- Sabe, filho, larguei o calhorda do seu pai, mas sou humana. Tem dia que acordo com umas vontades...Sinto falta, entende? Posso estar velha, mas não estou morta.
- Já cansei de falar pra senhora arranjar outro marido.
- É difícil, filho. Quando tiver a minha idade, vai entender.
Minha mãe estava sofrendo. Eu precisava ajudá-la!
- Mãe, vamos dar um passeio! - Levei-a até uma sex-shop.
Ela entrou sem perceber em que tipo de loja estávamos.
Primeiro, ela colocou os óculos, descrente.
Depois, franziu a testa e arregalou os olhos, espantada.
A seguir, fez cara de nojo.
Por fim, titubeante, pegou um dos “objetos”, com certa curiosidade. Apalpou, apalpou, ajeitou os óculos.
- Pra que serve isso?
- Mãe, que diabos???
O moço do balcão veio todo prestativo:
- Posso ajudar?
- Sim, trouxe minha mãe pra escolher um desses.
O rapaz, que devia ser mais discreto, fez cara de assustado.
- Então, mãe, este serve?
Deu com o troço na minha testa. Tive de correr para alcançá-la, enquanto ela saía, pisando duro, da loja.
Mas a intenção foi boa, pô!

O Bom Samaritano

Em julho, um sujeito muito parecido comigo, tão parecido que chego a vê-lo quando olho no espelho, recebeu uma proposta para dar uma palestra sobre tecnologia para um grupo de empresários de origem alemã, em Gramado. O sujeito, cópia minha, aceitou. Como o material também precisava estar em alemão, e como meu sósia não dominava aquele idioma por mera falta de tempo para estudá-lo (he he), precisou contratar uma tradutora e intérprete que, por sua vez, era parecidíssima com a Ana Hickmann.
Chegaram em Gramado à noitinha. Jantaram e seguiram, cada qual, para seu apartamento no Hotel.
Dada certa hora da madrugada, meu clone foi acordado pelo insistente som da campainha da porta. Levantou-se cambaleante:
- Quem é?
- A Sophia. Pode abrir? – Abriu. Ela estava de camisola, enrolada por um cobertor.
- O que foi? Que horas são?
- Passam das duas. Desculpe incomodar, mas eu estava dormindo, quando acordei com um estralo. O aquecedor do quarto pifou. Estou morrendo de frio.
- Vamos ligar pra recepção e pedir outro apartamento pra você.
- Já fiz isto. O hotel está lotado.
- Então vamos pedir um eletricista.
- Não tem nenhum de plantão. O quarto está abaixo de zero.
- Bom...se você quiser, podemos dividir minha cama.
- Jura? Não se importa? Não vou atrapalhar?
- Claro que não! - Disse o bom samaritano - Temos uma palestra logo mais. Você precisará estar 100%.

Na manhã seguinte, meu dublê foi acordado pelo celular. Era a esposa querendo saber se a viagem tinha sido boa, se estava, mesmo, sob 5 graus negativos, como ouvira na TV. Ele falava com ela, quando Sophia, deixando o quarto, gritou:
- Estou indo pro meu apartamento! Obrigada por me deixar dormir com você!
O celular captou as frases. Se minha imitação tentar explicar o que teve de fazer para explicar que focinho de porco não é tomada, esta crônica viraria um conto. Um conto bem extenso.
Ah, e meu semelhante jura que o aquecedor havia realmente queimado, que o hotel estava mesmo lotado, e que não!, não encostou um dedo na loirona. Acredite, quem quiser. 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O Renascido

Estou na livraria - meu habitat natural - vasculhando umas jazz song boxes, quando levo um baita susto:
- Cáspita!!! Cruz-Credo! Haroldo?!!
- Sei, sei.
- Você está vivo!
- É, não sou uma assombração.
- Mas eu pensei...que coisa...uma moça me ligou, não lembro o nome, avisando que você tinha morrido...
- Valéria.
- Mas, me conte, o que aconteceu?
- Vivi uns tempos em Goiânia e lá namorei uma moça chamada Valéria. Mas descobri que ela era maluca e então a deixei. Agora que voltei, fico vagando pela cidade, feito uma alma penada. Tenho um amigo mineiro, sabe como os mineiros têm medo dessas coisas, que por acaso, vinha caminhando à noite pela Paulista em minha direção. Quando me viu, acredita que saiu correndo?
- Bom, eu confesso que levei um susto daqueles.
- Outro dia, quis ligar pra outro amigo. Quando me identifiquei, ele chiou achando que era um trote e bateu o telefone na minha cara.
- Cara, que loucura...
- Lembra da Silvinha, aquela minha namoradinha? Topei com ela esses dias no shopping. Quando ela me viu, começou a ficar branca, branca, branca...se não a seguro, ela caía dura.
- Mas, Haroldo, por que todo esse engano?
- Foi coisa da Valéria. A louca roubou minha agenda telefônica e saiu ligando pra todo mundo, dizendo que eu tinha morrido.
- Pra quê?
- Vai saber. Acho que foi uma espécie de vingança. Não sei pra quantos ela ligou. Provavelmente, vou passar o resto da vida dando susto nos amigos. Você já é o oitavo.

Poesia Para Quem Aprecia - Parte XVIII - "Rosa Do Norte"

Queridos, peguem leve com a crítica. Eu tinha apenas 16 anos quando escrevi isto.

Rosa do Norte
De unha pintada
Pulseira dourada
De saia rodada
Gargalhando por nada
Era feliz no covil

Pouco pano na roupa
Muita pinta de louca
Uma voz meio rouca
Tinha um jeito febril

Eis que um dia, coitado
Capitão desgraçado
Deu-se por encantado
Perdoou seu passado
E com a Rosa fugiu

Mas, em pouco, o danado
Capitão enganado
Deu com Rosa e soldado
Num esfrega lascado
Feito bichos no cio

E, de cabra honrado
Capitão respeitado
Coração retalhado
No seu gesto vingado
Aqueceu seu fuzil

O soldado prostrado
Teve logo acabado
Mas a Rosa, de lado
Peito aberto e sangrado
Suspirou e sorriu...

Rosa,
Teu Capitão te matou
Oh, Rosa
Justo a ti, uma flor
Oh, Rosa, meu bem
O Norte hoje chorou
E eu, que sempre te amei
Morri um pouco também.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Outro Antonio

Logo depois que o casal se amou, ela se cobriu e quis cochilar um pouquinho. Estavam casados há uma década. Ela o achava um grande amante. Também, pudera, casou antes dos 20. Era o primeiro e único homem com quem ela havia se relacionado. Não sabia diferenciar um homem que dá prazer a uma mulher de um homem que dê 10 vezes prazer a uma mulher. Sem parâmetros, a pobre. Na verdade, a sessão que acabavam de concluir tinha sido modorrenta, quase protocolar, sem graça. Mas ela não sabia disso. Ele sabia, pois podia compará-la com algumas garotas de programa. Ela adormeceu. Ele resolveu levantar-se, e foi quando tropeçou num tapetinho e caiu, batendo violentamente a cabeça na quina do criado-mudo. Acordou cinco minutos depois, estirado no chão, sentindo batidinhas no rosto.
- Antonio, você está bem? Antonio?
- Com quem você está falando? Ai, minha cabeça...
- Com você.
- Não, você falou Antonio...
- Sim, falei com você. Você desmaiou.
- Desmaiei? Quem é você?
- Não é hora de brincadeira. Você está bem?
- Nossa, por que estou nu? Ave Maria, você também está!
- Acho melhor levar você a um pronto-socorro.
- Onde estou?
- Em casa, né, Antonio.
- Meu nome é Antonio? Eu moro aqui?
- Ou você para agora mesmo com essa brincadeira, ou vou achar que é sério.
- Sério, o quê? Ai, está doendo aqui – tocou a fronte.
- Se veste que vou levar você a um pronto-socorro.
- Por que você está sentada nua no meu peito? Nossa, você é linda.
- Faz tempo que você não me elogia.
- Linda, não, é maravilhosa. Está me excitando, sentada sobre mim. Suas saboneteiras são divinas. Olhe que tornozelos, que pezinhos...
- É, você não está nada bem. Há quanto tempo não me diz essas coisas.
- Nos conhecemos? Não lembro seu nome...
- Somos casados, Antonio. Vamos pro pronto-socorro.
- Somos casados? Sou casado com este avião? Quer dizer que posso fazer amor com você?
- Foi o que fizemos há pouco. Você levantou e levou um baita tombo.
- Podemos fazer de novo? Olhe como estou excitado.
- Acho que é melhor levar você a um pronto-socorro primeiro.
- Ah, eu estou bem, vem cá!
- Você está no chão.
- Adoro o chão.
Ela não lembrava se algum dia tinham se amado no chão. E foi assim que ela conheceu um homem capaz de proporcionar prazer a uma mulher por mais de 10 vezes seguidas. Depois, já começando a ficar arrependida, levou-o a um médico para ter seu Antonio original de volta.